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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Drogas: por que (porque) não legalizar?!


Um debate muito polêmico voltou ao cenário midiático, recentemente, juntamente às eleições legislativas nos Estados Unidos. A questão da legalização das drogas. Muitos vêem na legalização uma maneira de controle dos usuários e até mesmo uma forma de coibir o tráfico de drogas. Não é a opinião deste blogueiro. Por mais incrível que pareça talvez a legalização das drogas (nas condições atuais) trouxesse mais dispêndio na relação custo/beneficio, do que o seu atual estágio: criminalizada. A discussão a respeito das drogas não é coisa recente: é possível localizá-lo pelos menos desde os anos 60 e 70, nos movimentos de contracultura. No entanto, a criminalização ainda é a medida mais eficaz. Obviamente que todo debate é sempre bastante enriquecedor, mas quando se trata de uma questão tão complicada onde é notória a falta de preparo estrutural para uma possível legalização, essa disputa se torna caduca.
Sem dúvidas que se houver uma legalização dos entorpecentes, haverá certos ganhos (principalmente financeiros), uma vez que a droga será estatal (ou privatizada, porém sob tutela estatal) e os lucros serão vindouros. Mas isso não acabará com o tráfico, talvez até o mantenha em uma zona de conforto relativamente estável. Explico: vejamos a indústria fonográfica: é uma indústria legal, formalizada, que paga tributos ao Estado. Mas o fato de existir essa indústria legalizada não impede em absolutamente nada que a pirataria cresça vertiginosamente. Dados apontam que em 2009 da quantidade total de cd’s e dvd’s vendidos no Brasil, 51% foi efetuado pela indústria pirata e 49% pelos grandes selos. A probabilidade de esse cenário se repetir é significativamente grande. Justifico: não restam dúvidas de que o que faz as pessoas migrarem para a pirataria é o preço mais atrativo. As gravadoras apontam os altos impostos como o fator preponderante para o elevado preço dos cd’s e dvd’s. Ora, quem se dispusesse a produzir uma droga legal, também enfrentaria essa mesma carga tributária, logo, é de se imaginar que a vendagem no morro ainda teria o seu lugar cativo, assim como nas praças (no caso da fonografia) também o tem.
Mas esqueçamos um pouco o paralelo com a indústria fonográfica e admitamos que por hora que as drogas foram legalizadas. Ainda assim, por mais contraditório que pareça, eu diria que a legalização ajudaria o tráfico de drogas a se manter/aumentar. Certamente com a legalização haveria uma cota máxima para cada usuário. Suponhamos que esta cota seja de 15g semanais. Isso faria com que os traficantes abandonassem o transporte maciço da droga, e passasse a investir no transporte de pequenas quantidades. Há quem diga que a quantidade é mínima, e que o transporte de uma quantidade significativa demoraria muito. É verdade, mas se considerarmos que o exército do crime é vasto, talvez essa demora fosse um pouco reduzida, afora o fato de que o papel dos chamados “mulas” ganharia uma importância um pouco maior. Mais: no momento de recrutá-las o discurso dos traficantes seria exatamente o de que não haveria problema algum, uma vez que a compra e a quantidade que estava sendo transportada era dentro da lei. Por mais irônico que pareça, seria o tráfico se utilizando da lei para se manter à margem da lei. Hão de argumentar que haveria um cadastro com os dados dos usuários. Sim, esse cadastro haveria pra a compra legal. E a compra ilegal? A polícia teria a informação de que até 15g (usando do exemplo anterior) seria passível de ser liberado: todas as “mulas” andariam com apenas 15g, logo não haveria como separar joio do trigo. Criaríamos, sim, mais um problema para a polícia. Em um suspiro de resistência, poderia haver quem sugerisse uma espécie de selo para distinguir a legal da ilegal. Ora, existe clone de cartão, de dinheiro, de documento, de carro..., clonar um selo, para o crime organizado, seria brincadeira de criança.
Das teorias defendendo a descriminalização das drogas, a que mais me chamou a atenção foi a da criação de uma droga mais “fraca”, uma “droga light”. Muita calma nessa hora. É de um pensamento muito raso e pueril. Ora, o cara que vai atrás de uma pedra de crack ele não está afim de um torpor “leve”, se o tivesse ele compraria um baseado e não uma pedra crack. Compraria até mesmo alguns gramas de cocaína, que nada mais é que o crack menos denso, para ficar mais claro. Então por favor, sejamos razoáveis. Uma fórmula mais leve, definitivamente não será a solução. Isso sem contar que é bastante comum vermos que o público de um determinado produto começa a rejeitá-lo quando ele muda a sua fórmula, sendo bastante comum a venda das fórmulas antiga e nova. Elas co-existem. Era o que veríamos no caso dos entorpecentes.
Não creio que no Brasil temos uma estrutura o suficiente para admitirmos a legalização de entorpecentes. Acho, sim, que a legalização teria um valor prático (para ser bem utilitarista) muito pequeno em relação aos infortúnios que traria tanto ao Estado, quanto à polícia. A legalização é uma questão que envolve não apenas segurança pública, mas também saúde pública, e até mesmo educação. Por que não legalizar as drogas? Porque não temos uma estrutura adequada; Porque sofremos de uma grave crise nas segurança e saúde públicas; Porque não temos uma educação adequada... Então, eu voto NÃO.

Escrito por Humberto Rodrigo
Graduando em Ciências Sociais - UESC

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Lagoa Encantada, o Poeta Desencantado e a Luta de Classes


A Lagoa Encantada é um desses lugares escondidos que guarda uma imensa beleza natural em seu interior. Beleza que vislumbra os olhos de quem atravessa (pela primeira vez) um ramal de barro batido ladeado por mata (atlântica) e faz pouco caso do que o espera. Um pedaço do paraíso esquecido, habitado por uma população carente que em sua maior parte depende da Lagoa, seja através da pesca ou do turismo, para sobreviver. Quem nos alerta sobre o pedido de socorro pelo qual a Lagoa clama é seu ilustre morador, o Poeta. Em seu barco, onde trabalha fazendo o translado de turistas para as ainda mais escondidas cachoeiras encantadoras, Poeta dá uma aula sobre o materialismo histórico na prática, talvez sem saber. A lagoa, encantadoramente o tomou como sua porta-voz.

Situada na cidade de Ilhéus (outro paraíso escondido) no sentido Norte, ao adentrar no ramal que indica o acesso à Lagoa Encantada, nos deparamos com um povoado e a Lagoa, duas personagens que chamam a atenção. O povoado nos passa uma imagem de carência, não tanto pela condição financeira dos moradores que se pode perceber ao visitar a Escola ali inserida, pelos estudantes que a compõem e as dificuldades econômicas que tornam difíceis a luta pela escolarização dos mesmos. A carência que pode ser melhor notável em um dia de visita à comunidade da Lagoa é a de Políticas Públicas. É evidente a situação de abandono e descaso que a Prefeitura de Ilhéus tem para com os Lagoenses. E não há prova maior do que a relatada pelo seu morador mais enlevado da comunidade, o Poeta. Segundo o mesmo, nesse ano ocorreu de eles ficarem confinados por um mês no povoado, sem condições de saída por conta das chuvas que tornam a estrada de barro intransponível. Nenhum ônibus entrava ou saia. Pescadores não puderam ir vender seus peixes nas feiras, estudantes ficaram sem poder ir a Escola, pois aqueles que já estão no ensino médio têm de ir para o meio urbano, fora o turismo que parou!

O Poeta reclama do esquecimento a qual foram entregues. No caso da estrada, o problema poderia ser amenizado espalhando cascalho pela pista, facilitando assim o acesso à Lagoa. Porém, Poeta já se desiludiu com tais iniciativas. Dono de um restaurante e dois barcos, orgulha-se de ter conseguido tudo isso com esforços de seu próprio trabalho, frutos do “suor sagrado do seu rosto”, como já disse outro poeta. Desiludido não porque fraquejou ou porque nunca lutou. Poeta relata que sempre esteve a frente de reivindicações que trouxessem melhorias para a sua comunidade e para a Lagoa. Lutou por programas que qualificassem os residentes para assistência aos turistas, incentivos para instrução dos pescadores, cuja falta de conhecimento (da probabilidade de extinção do pescado) os levam a praticar a pesca predatória, cujos peixes em fases de reprodução são capturados, impossibilitando o aumento dos cardumes, e a luta pela resolução do problema da estrada. E foi por exigir que sofreu perseguições, ameaça de morte, tendo sofrido o roubo do motor de um de seus barcos que foi encontrado enterrado próximo das redondezas. Foi ameaçado até por professores, segundo ele, universitários, quando denunciou o desmatamento ilegal da floresta que margeia a lagoa.

Ouviu da boca das próprias autoridades o desinteresse em investir na Lagoa Encantada. Diante disso, o Poeta perdeu as esperanças de ver alguma mobilização por parte do Poder Público para ajudar a comunidade lagoense. Faz agora dos versos, da arte de poetizar, uma forma de denunciar a calamitosa situação o qual se encontram. Nas estrofes de SOS Lagoa, aponta-se a imagem do homem que explora até as últimas conseqüências, a Lagoa que clama por socorro. A defesa do homem pela natureza é contrastada pelo repúdio do homem que se coloca contra a natureza. O Poeta sabe ouvir o langor da lagoa que descansa e chora a noite das crueldades sofridas ao dia. Só a alma compadecida de um poeta para entender a angústia da natureza. Poeta ainda teme as forças maiores que rondam a Lagoa cheia de interesses privacionistas. Ele teme chegar o dia em que o capital privado domine a localidade e expulse toda a comunidade lagoense de suas moradias e a Lagoa se transforme numa propriedade privada. Apesar de suas angústias, as deduções do Poeta são as mais prováveis de se acontecer, pois se explicitamente vemos o desinteresse do poder público em investir e cuidar do local, isso significa caminho livre para o capital privado se instalar e se apoderar desse patrimônio natural. Certa vez vi uma reportagem que falava de um projeto de infra-estrutura que havia sido apresentada à prefeitura de Ilhéus há dez anos por um engenheiro para a melhoria da Lagoa. A reportagem falava que depois de dez anos de insistência, o engenheiro resolveu apresentá-lo a certa empresa privada que não só aprovou a idéia como deu aval para o mesmo prosseguir no desenvolvimento do projeto. O desprezo do poder público oportuniza iniciativas privadas.

Mesmo sabendo dos problemas e das projeções nada agradáveis as quais a Lagoa Encantada pode estar destinada, Poeta desistiu de exigir, ao ver que sua vida estava sendo posta em perigo, pois tem duas filhas e uma esposa pra sustentar, e depois, percebeu que estava só nessa batalha pela melhoria da comunidade. Não é uma desilusão por covardia, é uma desilusão que prioriza a existência. Pergunto-me quantas pessoas que lutaram e morreram na revolução russa de 1917 não se desiludiram ou se revolveram debaixo da terra ao ver no que deram seus esforços: a ditadura de Stalin, suas atrocidades e perseguições. Em alguns minutos de travessia em seu barco, Poeta nos mostra como se dão os conflitos, os embates, as lutas da classe dos trabalhadora contra os interesses privados, (afinal, os desinteresses da instância pública deve ter seus motivos bem patrocinados) tudo isso na prática, e perto de nós. Poeta traduz as lamentações da Lagoa aos que a visitam, e pede socorro.

Escrito por André Andrade
Graduando em Ciências Sociais - UESC

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A Educação Moral e a Importância da Disciplina, um estudo durkheimiano. parte 1


O sociólogo francês Émile Durkheim, que viveu no século XIX, nascido em 15 de abril de 1858 em Épinal- França, considerado o pai da sociologia moderna, em seus estudos, distingue duas fases da infância, a primeira que ocorre quase inteiramente no seio da família ou da escola maternal e a segunda que se passa na escola primária quando a criança começa a sair um pouco mais do seio da família e passa a se inserir no meio que a circunda, o que o filósofo chama de segunda infância. Esse, segundo Durkheim, é o momento crítico para formação do caráter moral.
Na fase da primeira infância lá no seio da família, a vida intelectual ainda é muito simples e rudimentar, e esse é um período em que a criança não tem matéria mental suficiente para constituir noções e sentimentos relativamente complexos que estão na base de nossa moralidade. O sociólogo chama a atenção, que diferente da primeira infância, depois da idade escolar se as bases da moral já não estiverem constituídas jamais o serão. A única coisa que se pode fazer depois desse momento é aperfeiçoar a obra começada, refinando os sentimentos, intelectualizando-os, fazendo com que a inteligência penetre neles com profundidade cada vez maior. Mas o essencial já deve estar feito, portanto é especialmente sobre essa idade, a segunda infância, que se deve fixar o olhar.
Em seu livro “A educação moral”, Émile Durkheim concentra seu olhar sobre a educação moral dessa segunda infância nas escolas públicas, que ele diz, devem ser a rodagem reguladora da educação nacional, contrariando a opinião muito difundida de que a educação moral deveria competir à família, ele acredita que o papel da escola nesse ramo da educação é e deve ser da mais alta importância, porque a família pode muito bem despertar e consolidar os sentimentos domésticos necessários à moral, mas não está constituída de modo a poder formar na criança toda moral necessária tendo em vista a vida em sociedade.
Por definição, a família é um órgão impróprio para tal função, dificilmente uma família tem a característica da laicidade, isto é, livre de interferências religiosas, conceituais e dogmáticas. A escola deve ser laica, levando em conta que ali é o lugar onde se forma cidadãos para a vida, para socializar-se com o mundo e, portanto livre de preconceitos e pré-noções. Ignorar isso é correr o sério risco de se ter uma sociedade preconceituosa, com sérios problemas de relacionamento.
Falando de religião, historicamente os laços são estreitos entre ela e a moral; existem elementos da moral que foram expressos apenas sob a forma religiosa, se cometer o erro de se limitar a tirar tudo que é religioso do sistema tradicional sem colocar nada em seu lugar, correremos o risco de eliminar também as ideias e sentimentos que são propriamente morais. Mas é bom considerar que uma moral racional não pode ser idêntica em seu conteúdo a uma moral que se apoia em uma autoridade diferente da razão, então o primeiro cuidado que se deve ter na tentativa de organizar uma educação racional é o de não empobrecer a moral, por isso, a moral religiosa deve ser levado em conta nesse processo, deve-se tentar descobrir sua expressão racional, buscando bem o âmago dessas forças, despojadas de todo ranço de religiosidade.
A formação moral de uma criança não está em despertar nela determinada virtude em particular e depois mais uma, e em seguida mais outra, está em desenvolver e mesmo constituir de forma integral e pelos meios apropriados, as disposições da moral que fará com que a criança esteja de forma natural com uma diversificação dos elementos da moral e isso com facilidade, de acordo com as particularidades das relações humanas.
Mas o que é moral? Segundo Durkheim é um sistema de regras que predeterminam a conduta. Elas dizem como devemos agir em cada situação; e agir bem é obedecer bem. E a moral se subdivide em duas: a moral teórica que tem por objetivo determinar as leis que identificam os princípios morais e a moral aplicada que busca definir como a lei teórica deve ser aplicada nas várias combinações que caracterizam as principais circunstâncias do cotidiano.
Não é necessário representar a moral como sendo uma coisa muito geral, que o que é moral aqui é moral em qualquer lugar, não é bem assim, países divergem em seus conceitos de moral. No entanto, é verdade que a moral é um conjunto de regras muito precisas; como moldes, com contornos bem definidos, onde temos que enquadrar nossa ação, essas regras não são elaboradas no momento que vamos agir, elas existem, já estão feitas, elas vivem e funcionam ao nosso redor, constituem a realidade moral em sua forma concreta. O papel da moral é realmente de determinar a conduta, ela dirá se a conduta é boa ou má, no fundo a moral é reguladora da conduta, essa é sua função primordial.

A Educação Moral e a Importância da Disciplina, um estudo durkheimiano. Parte 2


Levando em conta que a moral é essencialmente, algo constante, sempre idêntica, amanhã um ato moral deve ser o mesmo de hoje, porque se um indivíduo tem a oportunidade de fazer a coisa certa hoje e assim o faz e amanhã ele erra nos mesmos moldes, ai existe uma inconstância e o sujeito é julgado por isso, assim a moral de fato pela sua necessidade de regularidade é um hábito, assim quando uma maneira de agir se torna habitual no âmbito de um grupo, tudo que contraria, desperta um movimento de reprovação muito parecido com aquele produzido quando ocorre uma falta moral propriamente dita.
Isto ocorre com frequência nas religiões, especialmente de seguimento protestante, quanto aos seus costumes, crenças e doutrinas, se um de seus seguidores faz algo diferente daquilo que lhe é esperado, ou seja, do que é costume da igreja fazer, ele imediatamente é censurado, e nem sempre a falta do indivíduo constitui um ato imoral ou criminoso segundo as leis da sociedade.
Essas maneiras de agir habituais gozam do mesmo respeito particular de que são objetos as práticas morais. Mas há algo também muito importante na essência da moral que é o fato de ela exercer autoridade sobre nós, essa autoridade se nos impõe e nos conformamos a ela, aceitamos porque ela é uma regra e toda regra ordena e isso faz com que não nos sintamos livres para fazer o que quisermos.
Mas por que nos submetemos? Porque nos conformamos às regras? Um primeiro pensamento é que não é somente porque respeitamos a autoridade que vem das regras morais, é também porque o fato de obedecermos trará consequências úteis a nós, enquanto que o ato contrário, o de desobedecer, poderá acarretar em nós prejuízos os quais normalmente não estamos dispostos a assumi-los, aqui está presente um sentimento diferente do respeito pela autoridade, entra em cena considerações puramente utilitárias, mas é fato consensual de que um ato não é moral, mesmo que esteja em conformidade com as regras morais se o que o motivou foi apenas o interesse em evitar as consequências desagradáveis de não tê-lo praticado.
Para ser considerado um ato moral ele deve ser executado, não para evitar determinado resultado desagradável, ou para obter determinada recompensa, é preciso que seja cumprido simplesmente porque deve ser cumprido, abstraindo de toda e qualquer consequência que poderia produzir nossa ação.
É preciso respeitar o preceito moral pelo respeito a ele, e apenas isso. Para tanto, ao participar da moralização de uma criança é preciso ter em mente que é preciso exercer autoridade sobre ela, em existindo a autoridade se instala a disciplina, porque não existe disciplina sem autoridade. Durkheim afirma que o primeiro elemento da moralidade é o espírito de disciplina.
Mas o que é afinal esse tal espírito de disciplina? Como já vimos anteriormente, a moral consiste em um conjunto de regras definidas e especiais que determinam imperativamente a conduta, posto então que a moral determina, fixa, regulariza as ações dos homens, ela então pressupõe que o indivíduo tenha disposição e também certo gosto pela regularidade, composta por uma série de regras que devem ao homem moral serem intrínsecas. A moral exige disciplina, especialmente na formação, lá na tenra idade, porque os verdadeiros deveres são cotidianos e regulares.
Vimos até aqui, que dois elementos compõem a formação da moral no indivíduo: o sentimento de regularidade e o sentimento da autoridade, na verdade esses dois elementos são um só, que Durkheim chama então de espírito de disciplina, que é a primeira disposição fundamental de todo temperamento moral. Entretanto há algo para desmistificar nessa aplicação da disciplina, em geral se pensa disciplina como sendo algo que precisa ser imposto, que é algo inevitável e assim sendo, se tem a errada noção de que disciplina é um incômodo necessário, mas sempre penoso, um mal necessário, mas que se tenta minimizar tanto quanto possível. Com efeito, não se pode ver a disciplina sob esse prisma, como sendo um freio, uma limitação imposta à atividade humana. Porque limitar, frear, é o mesmo que negar, é impedir de ser, é, portanto destruir parcialmente, e do ponto de vista sociológico, toda destruição é má.
Porque se consideramos que a vida é algo bom, como poderíamos achar que é bom contê-la, estorvá-la, impor limites os quais ela não pode ultrapassar? Precisamos ter em mente que o “bão da vida” como diz Augusto Oliveira, meu amigo e professor de Antropologia, é vivê-la com gosto, curtir todos os momentos com intensidade, afinal, ser é agir e toda diminuição da vida é uma diminuição do ser. Nesse sentido de saber ou não lidar com o ato de disciplinar, poderá se notar que a disciplina produzirá resultados muito variados, de acordo com a ideia que se fizer de sua natureza e de sua função na vida em geral, e em particular, na educação.
Assim, portanto não podemos de forma alguma ver a disciplina como sendo um instrumento de repressão ao qual precisamos recorrer apenas quando se mostra indispensável, para prevenir a repetição dos atos repreensíveis, de forma alguma! Bom salientar aqui que o exercício da autoridade na aplicação da disciplina, não significa força, tirania, porque como escreveu Hannah Arendt, a escritora judia/alemã, quando se refere a questão do anti-semitismo que o uso da força é um claro sinal de que não há autoridade. Há que se considerar então que a disciplina é em si um fator sui generis da educação e que existem elementos essenciais no caráter moral que só podem ser creditados a ela.

A Educação Moral e a Importância da Disciplina, um estudo durkheimiano. Parte final


É mediante a disciplina, e somente a ela que podemos ensinar a criança a moderar seus desejos, a limitar seus apetites de todo o tipo, é o único instrumento do qual dispomos para fazer com que a criança tome caminhos certos na formação do seu caráter, portanto marginalizar tal ato é jogar fora uma ferramenta indispensável para condicionar a criança no caminho da felicidade e saúde moral.
A disciplina é o agente principal da formação do caráter, trabalha no sentido de dar ao indivíduo domínio sobre suas paixões. No que concerne às três divisões da natureza humana ela atua para que a alma irascível que é a parte de nosso ser que tende a ser dominado pelos sentimentos da ira, ódio, vingança, coragem, bem como a alma apetitiva que fomenta em nós o desejo pela gula, pelo sexo e que é também responsável pela nossa reprodução se submeta completamente a alma logística que é o nosso ser consciente, a alma racional, que segundo o filósofo grego Platão, é a parte de nós que mais se aproxima do divino, que promove em nós o equilíbrio necessário para que sejamos cidadãos úteis e cônscios dos nossos deveres. É a disciplina que nos ensina a agir sem nos curvar à dominação dos impulsos do nosso interior.
Finalmente Durkheim conclui o pensamento relativo à disciplina dizendo que “é comumente na escola do dever que se forma a vontade”. Então o dever deve ser bem trabalhado, nesse caso específico, toda a atenção deve ser dada para essa fase tenra da vida, da criança em formação, é nela que se dá o que há de mais valioso para o cidadão, e consequentemente para toda sociedade, a boa moral, e esse não é um dever apenas de pais e mães, também das escolas que devem cumprir bem seu papel de educar, do poder público que precisa ter políticas públicas mais efetivas voltadas para a segunda infância, da sociedade como um todo. Porque seu bem estar, a paz que tanto almejamos, a diminuição da corrupção, entre tantos outros valores que desejamos encontrar mais frequentemente entre nós, depende da maneira como formamos os indivíduos que a compõe, em destaque, nossas pequeninas crianças.

Marivaldo Oliveira Silva (Maik Oliveira)
É graduando em Ciências Sociais - UESC
Coordenador de Comunicação do CACIS
(Centro Acadêmico de Ciências Sociais)
Contato: maik.35@hotmail.com

Um seminário de Sucesso


Olá galera,
já faz um tempinho que nada de novo é postado aqui desde os dias que antecederam nosso seminário, como podem ver no post anterior a este. A verdade é que foram muitos acontecimentos importantes (alguns nada prazerosos) e agora estamos de volta para dar continuidade ao nosso trabalho.
Gostaria de informar que esse espaço foi criado para divulgar a produção acadêmica do Curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Santa Cruz, bem como também publicar textos relevantes de colegas e simpatizantes da Sociologia, Antropologia e Ciência Política, os três eixos das Ciências Sociais.
Faz-se necessário nesse post, escrever um pouco do que foi e o que representou para nós estudantes, o III Seminário Anual de Ciêncoas Sociais da UESC - Objeto e Método nas Ciências Sociais, que de fato foi marcante pelas questões abordadas, pelo nível dos palestrantes, pela participação em massa dos alunos do curso e de outras áreas do conhecimento.
O fazer Ciências Sociais foi ali muito bem explicitado, os métodos de pesquisa, de ensino, o que se produz hoje em todo Brasil e fora dele, o nosso objeto de estudo, seu comportamento, suas variâncias e alternâncias, realmente extremamente produtivo.
Foram três dias bastante proveitosos, onde os discentes também tiveram a oportunidade de apresentar nas sessões de comunicação seus textos, suas produções acadêmicas, suas inquietações.
Agradecemos a todos os envolvidos na realização desse seminário, a CAPIS e a UESC pelo apoio financeiro e logístico, ao departamendo de Filosofia e Ciências Humanas - DFCH, ao Colegiado de Ciências Sociais representado muito bem pelo Professor Doutor Elias Lins, a coordenação do evento, representada pelos Professores Wladimir Blos,Flávia Alessandra e demais colaboradores.
Perdoem-me se esqueci de mencionar alguém, mas todos foram fundamentais para o sucesso do evento.
Em breve estará disponível os anais do evento em cd para os participantes, bem como os certificados.

Aguardemos o próximo seminário, que com certeza poderá ser ainda melhor, este que já entrou para o calendário anual de eventos da Universidade Estadual de Santa Cruz.

Para visualizar algumas fotos segue o link: http://cienciassociaisuesc.blogspot.com/2010/10/iii-seminario-anual-de-ciencias-sociais.html

Escrito por: Maik Oliveira