Por Maik Oliveira
Esta semana, numa reunião pedagógica, presenciei uma cena no mínimo curiosa. É triste observar como as pessoas às vezes não sabem lidar com o sucesso e o transforma em seu próprio algoz.
Um profissional de educação, convidado para dar palestra para professores em uma escola da rede privada, chegou cheio de aparatos: data show, notebook, powerpoint. De repente a apresentação: "o professor fulano de tal é formado em Letras pela universidade tal, fez pós-graduação em outra tal, especialização em mais outra lá". Enquanto alguém o apresentava, ele mesmo tratou de imediatamente colocar no data show todos os seus títulos, suas conquistas acadêmicas e em seguida com ar pomposo, iniciou a palestra. Sua proposta era mostrar aos profissionais de educação presentes, os novos métodos de trabalho em sala de aula. Métodos que segundo ele, suas pesquisas e "vasta experiência" na área de educação, têm surtido grandes efeitos sobre a criançada, e, sem dúvida alguma, transformariam cada estudante em grandes conhecedores de todas as disciplinas a serem estudadas, muito mais que os velhos métodos de ensino ultrapassados, que deixou e tem deixado muita gente para trás.
Fazia suas ponderações quando uma professora resolveu comentar uma de suas colocações. Dentro do colocado, a profissional argumentou que não via daquela forma, entendia que as muitas tentativas de modernizar o ensino transformou a educação numa suposta panacéia, aquela que pode curar todos os males, coisa que na prática não vem ocorrendo pois, muito embora o professor deseja ser um agente transformador com melhores resultados, o sistema de ensino no Brasil engessa o processo, desmotiva o docente no seu sonho de oferecer o algo mais. E salientou: "no entanto, estudei no método de ensino tradicional e estou aqui, cheguei onde queria chegar".
O palestrante emendou: “você chegou! Mas quer ver eu te provar que o método antigo não é produtivo? Quantos de seus colegas conseguiram chegar onde você está?"
Ele não contava com a resposta da professora. Ela disse: “todos, todos os meus colegas conseguiram chegar!”
Ele arregalou os olhos e disse: "como assim? Todos?!" Outra docente mais experiente que por acaso havia sido professora da colega, completou: "sim! Todos os meus alunos chegaram à faculdade, e hoje estão no mercado de trabalho como profissionais qualificados".
Um silêncio... uma respirada...e o palestrante disse: “ahh! Mas isso é uma exceção, na maioria dos casos, os estudantes vão ficando para trás". Se sim, ou se não, o fato é que esse episódio desconcertou o pobre rapaz, os argumentos foram ficando sem fundamentação, outros colegas entraram na discussão, de forma saudável é claro, e o que se viu nitidamente foi o rapaz amarelar. Num dado momento ficou claro que o maior desejo dele era terminar aquela palestra e sair daquele lugar o mais rápido possível, e foi exatamente o que aconteceu.
Não sei o que o leitor pensa, mas imagino que quando você se predispõe a defender algo, uma ideia, é preciso se cercar de argumentos poderosos, convincentes, quase irrefutáveis e se preparar para as perguntas que certamente aparecerão, ter para cada uma delas respostas que, se não respondem completamente, ao menos dê ao questionador, a sensação de que é possível que seja mesmo assim.
Particularmente não vejo nada demais em você apresentar suas credenciais, afinal, você lutou para conseguir cada uma delas, e, de modo quase geral, as pessoas gostam de saber que estão diante de uma pessoa qualificada. No entanto, é preciso estar ciente que apresentar credenciais é criar expectativas. E quando estas são criadas, por favor, satisfaça-as, do contrário, você adquire o passaporte para seu próprio fim, seja em qualquer área da vida: namoro, casamento, profissional, amizade, e tudo que diz respeito às atividades humanas. O mundo moderno, ou como queiram alguns estudiosos, o mundo pós moderno se tornou muito exigente e competitivo. Não se aceita o mediano, o quase bom, é preciso buscar a excelência. Em tempos de ISO de todos os valores, o que vale mesmo é a superação de expectativas, e não o comum, o trivial, este pode ser encontrado em quase todas as esquinas. Mas responda esta questão: depois de alcançada a excelência, por qual motivo algumas pessoas sentem repentina dificuldade em lidar com o sucesso?
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