sexta-feira, 19 de novembro de 2010
A Educação Moral e a Importância da Disciplina, um estudo durkheimiano. Parte 2
Levando em conta que a moral é essencialmente, algo constante, sempre idêntica, amanhã um ato moral deve ser o mesmo de hoje, porque se um indivíduo tem a oportunidade de fazer a coisa certa hoje e assim o faz e amanhã ele erra nos mesmos moldes, ai existe uma inconstância e o sujeito é julgado por isso, assim a moral de fato pela sua necessidade de regularidade é um hábito, assim quando uma maneira de agir se torna habitual no âmbito de um grupo, tudo que contraria, desperta um movimento de reprovação muito parecido com aquele produzido quando ocorre uma falta moral propriamente dita.
Isto ocorre com frequência nas religiões, especialmente de seguimento protestante, quanto aos seus costumes, crenças e doutrinas, se um de seus seguidores faz algo diferente daquilo que lhe é esperado, ou seja, do que é costume da igreja fazer, ele imediatamente é censurado, e nem sempre a falta do indivíduo constitui um ato imoral ou criminoso segundo as leis da sociedade.
Essas maneiras de agir habituais gozam do mesmo respeito particular de que são objetos as práticas morais. Mas há algo também muito importante na essência da moral que é o fato de ela exercer autoridade sobre nós, essa autoridade se nos impõe e nos conformamos a ela, aceitamos porque ela é uma regra e toda regra ordena e isso faz com que não nos sintamos livres para fazer o que quisermos.
Mas por que nos submetemos? Porque nos conformamos às regras? Um primeiro pensamento é que não é somente porque respeitamos a autoridade que vem das regras morais, é também porque o fato de obedecermos trará consequências úteis a nós, enquanto que o ato contrário, o de desobedecer, poderá acarretar em nós prejuízos os quais normalmente não estamos dispostos a assumi-los, aqui está presente um sentimento diferente do respeito pela autoridade, entra em cena considerações puramente utilitárias, mas é fato consensual de que um ato não é moral, mesmo que esteja em conformidade com as regras morais se o que o motivou foi apenas o interesse em evitar as consequências desagradáveis de não tê-lo praticado.
Para ser considerado um ato moral ele deve ser executado, não para evitar determinado resultado desagradável, ou para obter determinada recompensa, é preciso que seja cumprido simplesmente porque deve ser cumprido, abstraindo de toda e qualquer consequência que poderia produzir nossa ação.
É preciso respeitar o preceito moral pelo respeito a ele, e apenas isso. Para tanto, ao participar da moralização de uma criança é preciso ter em mente que é preciso exercer autoridade sobre ela, em existindo a autoridade se instala a disciplina, porque não existe disciplina sem autoridade. Durkheim afirma que o primeiro elemento da moralidade é o espírito de disciplina.
Mas o que é afinal esse tal espírito de disciplina? Como já vimos anteriormente, a moral consiste em um conjunto de regras definidas e especiais que determinam imperativamente a conduta, posto então que a moral determina, fixa, regulariza as ações dos homens, ela então pressupõe que o indivíduo tenha disposição e também certo gosto pela regularidade, composta por uma série de regras que devem ao homem moral serem intrínsecas. A moral exige disciplina, especialmente na formação, lá na tenra idade, porque os verdadeiros deveres são cotidianos e regulares.
Vimos até aqui, que dois elementos compõem a formação da moral no indivíduo: o sentimento de regularidade e o sentimento da autoridade, na verdade esses dois elementos são um só, que Durkheim chama então de espírito de disciplina, que é a primeira disposição fundamental de todo temperamento moral. Entretanto há algo para desmistificar nessa aplicação da disciplina, em geral se pensa disciplina como sendo algo que precisa ser imposto, que é algo inevitável e assim sendo, se tem a errada noção de que disciplina é um incômodo necessário, mas sempre penoso, um mal necessário, mas que se tenta minimizar tanto quanto possível. Com efeito, não se pode ver a disciplina sob esse prisma, como sendo um freio, uma limitação imposta à atividade humana. Porque limitar, frear, é o mesmo que negar, é impedir de ser, é, portanto destruir parcialmente, e do ponto de vista sociológico, toda destruição é má.
Porque se consideramos que a vida é algo bom, como poderíamos achar que é bom contê-la, estorvá-la, impor limites os quais ela não pode ultrapassar? Precisamos ter em mente que o “bão da vida” como diz Augusto Oliveira, meu amigo e professor de Antropologia, é vivê-la com gosto, curtir todos os momentos com intensidade, afinal, ser é agir e toda diminuição da vida é uma diminuição do ser. Nesse sentido de saber ou não lidar com o ato de disciplinar, poderá se notar que a disciplina produzirá resultados muito variados, de acordo com a ideia que se fizer de sua natureza e de sua função na vida em geral, e em particular, na educação.
Assim, portanto não podemos de forma alguma ver a disciplina como sendo um instrumento de repressão ao qual precisamos recorrer apenas quando se mostra indispensável, para prevenir a repetição dos atos repreensíveis, de forma alguma! Bom salientar aqui que o exercício da autoridade na aplicação da disciplina, não significa força, tirania, porque como escreveu Hannah Arendt, a escritora judia/alemã, quando se refere a questão do anti-semitismo que o uso da força é um claro sinal de que não há autoridade. Há que se considerar então que a disciplina é em si um fator sui generis da educação e que existem elementos essenciais no caráter moral que só podem ser creditados a ela.
2 comentários:
to cansado de escerver essa merda
até quando com isso! preconceito não é inteligencia e sim burrise!
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