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terça-feira, 1 de março de 2011

Odeio pedido de desculpas!



Por Maik Oliveira

Nos últimos tempos assistimos a banalização do pedido de desculpas, pede-se desculpas por tudo e por todas as ofensas o pedido de desculpas é a moeda que paga pela reconciliação, pela complacência, a chave do voltar a ficar bem.

Não digo que pedir desculpas esteja tão demodê, o que não concordo é com a mercantilização desse ato, sim, mercantilização, porque a coisa é feita de tal modo, que as pessoas imaginam que podem arriscar a ofender, prejudicar ou mesmo machucar alguém em troca de algo, mas se a vítima ficar muito chateada basta um pedido de desculpas e tudo fica bem.

No início desse ano, assistimos horrorizados corpos de pessoas descendo ribanceiras abaixo nas enxentes do Rio de janeiro, ao fim do massacre natural (natural?) foram contabilizados quase mil mortos fora os que estão desaparecidos e o governo que deveria agir na prevenção, pois esta é a sua prerrogativa, ofereceu dinheiro e um pedido de desculpas para as famílias enlutadas, vítimas da sua inércia.

Em São Paulo, jovens gays foram massacrados, humilhados e esbofeteados na rua por um bando de "sem que fazer", a moeda de troca que as vítimas receberam foi uma mãe afirmando que não criou os filhos para aquilo (será?) e com essa afirmação veio embrulhado um pedidozinho de desculpas.

A igreja católica depois de mais de 50 anos do genocídio praticado contra os judeus em que ela silenciou-se covardemente e completamente, virando as costas, tapando os ouvidos e fechando os olhos enquanto milhares de inocentes eram exterminados brutalmente nos campos de concentração, resolveu recentemente através do papa Bento XVI, que a melhor moeda a oferecer para a humanidade era um "formal pedido de desculpas" e nada mais.

Mas pergunto: um simples pedido de desculpas restitui as perdas das vítimas? Será que as familias cariocas que perderam filhos, mães, pais, avós, netos de forma tão brutal ficaram satisfeitos com o dinheirinho e o pedidozinho de desculpas governamentais? E as suas perdas? Seus prejuízos materiais e emocionais?

E os rapazes vítimas da covarde homofobia em São Paulo, como eles estão se sentindo com o pedido de desculpas da mãe de um dos agressores? E as marcas que ficaram na pele, nos rostos e principalmente na mente das vítimas, quem as absorve?

Como a igreja católica pode reaver tudo que os judeus sofreram nos campos de concentração nazistas, as criancinhas famintas que eram enganadas com pedaços de chocolate até encontrarem uma bala de fuzil na cabeça? Os idosos que morreram de inanição e maus tratos nos campos de concentração? Como a igreja católica pode devolver honra, dignidade, paz, cura mental para os milhares de órfãos judeus com um simples pedidozinho de desculpas?

Aos que pedem desculpas só há algo a fazer, virar as costas e se sentirem o máximo porque conseguiram se retratar diante do que fez e com quem fez, depois disso sentem-se aliviados e ainda tem a cara de pau de pensar: "fiz a minha parte, se ele não perdoar o problema é dele não é mais meu". Os cristãos dizem "ofereça a outra face" mas vai lá na igreja e meta a mão no dízimo? Ou seja um membro da igreja e faça algo que contraria suas doutrinas! você é imediatamente banido do "rebanho" sem chances de se explicar e mais do que isso, eles te estigmatizam, bandido uma vez, bandido para sempre! (sem generalizações, é claro!).

Para as vítimas o que fica é a dor, as marcas, as cicatrizes que em muitos casos nem o tempo consegue apagar.

Sabe o que penso? Muito melhor do que pedir desculpas é nunca precisar fazê-lo. Tá! eu sei! isso soa meio que utópico numa humaninade falível, passível de erros, claro, todos nós erramos, todos cometemos deslizes, e eu como um pobre mortal me incluo de corpo e alma entre esses errantes, claro que precisamos pedir desculpas sempre que vitimamos alguém com nosso modo de ser e viver, mas cai muito bem quando as pessoas vivem de tal modo que pedir desculpas não se torna uma banalidade em suas vidas e sim algo de uma importância profunda, um aprendizado para jamais voltar a fazer o que gerou a necessidade de pedir desculpas.

Está mais do que no tempo, em uma sociedade organizada, capacitada, educada, de começarmos a rever nossos atos, a maneira como interagimos com as pessoas, respeitando suas limitações, suas escolhas, suas opiniões, lançando mão de conhecimentos que hoje dispomos para diminuir sensivelmente a necessidade de estarmos constantemente abrindo a boca para dizer: "me desculpe por favor".

Explicando o título desse post, odeio sim o pedido de desculpas, quando este claramente podia ser evitado, mas aceito o pedido de desculpas sincero e de fácil compreensão.

Maik Oliveira é designer, blogueiro (www.blogdomaikoliveira.blogspot.com) e estudante de Ciências Sociais na Universidade Estadual de Santa Cruz

2 comentários:

Andrea disse...

...quantas vezes eu já pensei nisso! adorei

Sonia M disse...

Muito bom! Concordo plenamente!!!

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