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domingo, 19 de setembro de 2010

Ensaio sobre a dádiva (Marcel Mauss) por Nádia Aguiar Parte III


Refletindo sobre algumas ideias na “contemporaneidade”, Mauss elucida a questão das esmolas, como fruto de uma noção moral da dádiva e fortuna e também como uma forma de sacrifício. E que essa moral é transferida em caráter de justiça, pois as divindades consentem que dádivas que seriam destruídas em sacrifícios inúteis sejam transferidas para os pobres e crianças. Fala-se em destruição de dádiva, pois esses sistemas não consentiam apenas as trocas, mas também em sentido extensor desse sistema, a destruição dos bens como forma de demonstração de status.
Dentro das exemplificações, segue-se o Kula dos trombiandeses estudado por Malinowski. “O kula em sua forma essencial, não passa ele próprio, de um momento, o mais solene, de um vasto sistema de prestações e de contraprestações que, na verdade, parece englobar a totalidade da vida econômica e civil dos trobiandeses.(...) O kula, é o ponto culminante dessa vida. (:83) Não se estendendo muito sobre o kula, até porque não daria conta em poucas palavras de falar sobre algo que ele dispensou um livro inteiro, comento em breves observações, sob a leitura de Mauss, que a concorrência, a rivalidade, a ostentação e a procura da grandeza e do lucro são os motivos diversos que estão por trás dessas dádivas de chegada e dessas dádivas de partida, observando que as de partida são sempre superiores a da chegada. É um constante dar e tomar.

Tudo está ligado e confundido, as coisas tem personalidade e essa personalidade é de uma certa maneira permanente no clã. Os títulos, talismãs, cobres e os espíritos dos chefes são homônimos e sinônimos, com uma mesma natureza e uma mesma função. A circulação dos bens segue homens, mulheres, crianças, banquetes, ritos, cerimônias e até mesmo as injúrias. No fundo, tudo isso é uma coisa só, afirma Mauss. Eles se dão e se retribuem as coisas, porque se dá e se retribui respeito, honra, dignidade, gentilezas. Mas também por que o doador se dá, e porque ao se dar também se deve aos demais. (:129)

Na segunda parte do ensaio Mauss faz uma análise de documentação história no chamado mundo antigo. Isso demostra a ideia de que, estudando as sociedade arcaicas poderia-se comparar e achar uma “explicação” das civilizações atuais. Embora não sendo explicitamente evolucionista, Mauss tem dissolvido no seu discurso tais ideia, até porque era senso comum não somente na sociologia francesa e nas ciências em geral, como em todo o meio circundante. Era uma época colonialista e todos nós sabemos das consequências disso.

Tais considerações ficam claras quando Mauss fala de uma transformação de novas formas sobre o direito real e o direito das coisas. Aqui faço uma pequena pausa, para questionar sobre essa região “delimitada”. Será que nossa sociedade separa as coisas das pessoas? Colocando uma reflexão bem corriqueira através de um sistema de “dádivas contemporâneas” coloco o amigo oculto. Valores são estabelecidos nessas trocas, mas a depender do seu nível de amizade ou de status que a outra pessoa confere você pode avaliar que tal pessoa possa merecer um presente com valor maior. Ou seja, você imprime na pessoa o valor dado a coisa e vice e versa.

Fechando o parênteses, Mauss discorre de como o roubo, o penhor e o comodato seriam transformações das dádivas primitivas, pois neles estariam desenvolvidas a ideia de crédito e de juros.

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